quarta-feira, 27 de março de 2013

Angústia


Ele é velho,
Ele senta-se e chora.
As mãos trémulas sobre a mesa
Procuram o lugar mais cómodo
Mas de novo voltam ao copo.
Bebe mais um gole.
Em seu redor tudo fede,
Não por acção humana,
Não por sua própria acção,
Apenas fede naturalmente
Assim como as suas recordações,
A sua cadeira,
A sua sabedoria,
O seu corpo e o seu rosto.
Somente isso o agrada.

Ele é velho, não de idade,
Ele sente-se velho
E continua sentado
Com o seu cú enterrado em coisa nenhuma.
Tudo lhe é tão vago como alheio.
As ruas, apenas ruas.
As pessoas, apenas pessoas.
Uma conversa, apenas uma conversa.
O resto, o que lhe é sabido
Tem tanto de si como de estranho.
Acende um cigarro,
Esconde-se por detrás daquele fumo,
O cheiro infesta todos os cantos daquela divisão.
Inala-o como se cheirasse a sexo.

Ele é velho, de angústias.
Tornaram-no velho a qualquer custo.
Chora como um bébé que se borrou todo,
Chora porque se vê como realmente é,
Chora porque se conhece
E não passa de um vazio.
Não passa de um velho,
Tão velho como a sua angústia.

Tiago Oliveira   23/03/2013

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Equilibrio


Sou o nada
Centrado no tudo.
O vento estaca,
Pára o mundo.
Raízes surgem das nuvens,
As folhas tocam-me cara,
A terra faz-me cócegas
E o mundo, esse, pára!
Equilibrado. Mas ás cegas.

Surge o sol
De onde nasce o ar
(aparecendo de mansinho)
Aquilo que hoje incendeia
A água não vai apagar.
É o ciclo das coisas,
O equilibrio do mundo.
Tudo o que se ergue
De novo volta ao fundo.

Paira à minha cabeça
A mão de alguém.
Ao nascimento de uma alma, rio,
(Que interessa essa?)
De seguida outra vem.

Estou desnudado,
Irreconhecível
Parado no nada possível.
Peso morto num caixão
Sem saber qual a razão
Da paixão apetecível.

Tiago Oliveira 3/04/2012

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Um Barco na Praia



Os mastros ao alto
Traçando o grande azul.
Ao longe, ouve-se o vento.



Tiago Oliveira   24/02/2012

sábado, 28 de janeiro de 2012

O Nó do Vazio


Os dias passam,
As horas passam,
Os segundos passam.
Eu passo com eles
No compasso do tempo,
Num compasso intemporal...

Oh! Minha cidade querida
Onde o rio corre
Em direção ao mar!
Pescador sou eu
E corro com ele.
Corro nela...
Entre vagas de pessoas,
Entre vagas do vazio.
O que pesco? Não sei!
Apenas amar...

E o banco já velho
De madeira já gasta,
Triste, podre, só,
Como eu...
Que nele me sento.
De nada me vale
Se valor tem alguma coisa
E nada sustenta
Se nada se levanta.
Apenas odiar...

Por fim, aclamo à terra!
Aquilo de onde vim,
Areia,
Barro,
Exterquilínio...
Que te abras por baixo de mim
Que eu caia no declínio.

(no vazio de mim próprio)

Lá estarei só
Mas aí o saberei
Que outrora fiz o nó
E no infinito...
O desatei.

Tiago Oliveira  28/01/2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Balada Desconcertante


Abraça-me no casamento
Que amanhã nos separamos!
Abraça-me no casamento
Desta balada desconcertante,
Desta balada flamejante.
O que hoje é,
Amanhã nao será importante.

(não sei que dizer mais)

Sou eu divorciado de mim,
Vive o outro no quarto ao lado.
Noutro pólo, parado!
Á espera do fim.

Tiago Oliveira   19/01/2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Proxeneta"



Chulo,
Proxeneta,
Cafetão!
Os meus prostitutos
Dão o cu por um tostão
Apenas putas,
Apenas putos
Mas o cu eles darão.

Os tempos não vão belos!
Nem pr'a mim,
Nem pr'a ti
Mas a isto te vais dar
Por ser esse o teu fim,
Por ser esse o fim de ti!
Por em ti nao acreditar.

Sim, aposta nisso.
Sim, é um bom futuro.
Sim, com esse "cuzinho"
Vais ser dono do Mundo!

(mal sabe o teu vizinho)

Como compraste aquele carro?
Tu nem tens trabalho!
-Pois não, dou o rabinho
E dói comó carvalho!

Prostituição de rua?
Prostituição de salão?
Prostituição tua!
Prostituição com razão!
Sim, eu invisto nisto
Ah! Sou um grande cabrão!

Venham, venham todos!
Venham todos ao meu rebanho!
Se tens cu!
Trabalho para ti, eu tenho!

E chamem-me!

Chulo,
Proxeneta,
Cafetão!
Pois...
Os meus prostitutos
Dão o cu por um tostão.
Apenas putas,
Apenas putos
Mas o cu eles darão.


Tiago Oliveira   18/01/2012

DEAD COMBO "Cuba 1970"


Lindo! Faça-se música!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Do Céu ao Lodo



Olhei-me ao espelho, acordei!
Lavei-me do que era meu,
Usei-me do que era teu.
Da terra me levantei,
Fiz-me erguer por entre o céu.

Disfarçado de ti mesmo
Tristemente a sorrir,
Sem de mim achar termo,
Sem de mim achar sentir.

Já nada eu era
Sendo nada o tudo.
Já tudo eu esquecera
Sendo eu o mundo!

Vi ruas desmascaradas
E vi pessoas escondidas,
Vi casas, sós, fechadas,
E vi almas perdidas.

Ah, mas não me via a mim!
E só me olhando em ti
Reconhecia o meu fim.

Para cada todo, há duas metades
Mas duas metades não são um todo.
Soltei-me então das grades
E do céu voltei ao lodo.

Tiago Oliveira   15/01/2012

sábado, 14 de janeiro de 2012

Radiohead - High & Dry



"Eu aposto que achas que isso é engenhoso, não achas rapaz?
Voando em sua moto,
Observando todo o chão abaixo de ti a desabar!"



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Lembro-me de cantar sem saber porquê



Lembro-me de cantar sem saber porquê
de sonhar, de sorrir inocentemente, quase feliz...
Lembro-me de ti como nesses momentos
em que olhava o horizonte, curioso.

Lembro-me de como olha a criança  as estrelas á noite
tentando dar-lhe nomes, tornando-as suas,
querendo voar para poder abraçá-las...
Lembro-me de correr, sentindo a brisa fresca
apenas porque naquele momento fazia sentido,
ali era quase feliz...
Lembro-me de ti como nesses momentos
e vou deambulando por entre fragmentos da memória,
quase feliz.

Lembro-me de cantar sem saber porquê,
somente cantava aquela musica...
Lembro-me de ti como nesses momentos
em que com os olhos tudo dizia, em silêncio.

Lembro-me como admirava aquele sentimento,
guardando-o como se guarda um tesouro,
protegendo-o quase como a um coração...
Lembro-me de quando o mundo parecia maior
e daquela força que me fazia avançar sem receios
fazendo dos sonhos apenas obstáculos.
Lembro-me de ti como nesses momentos
e sinto-te ao meu lado, sinto o teu abraço,
quase feliz.

E lembrando resta-me entao
pensar em ti quando nao te vejo
porque a quem gosta, só isso basta,
nesse momento em que sou quase feliz...
nesse momento em que sonho...

Tiago Oliveira    9/01/2012

domingo, 8 de janeiro de 2012

Jeff Buckley - Hallelujah


"Querida, eu já estive aqui antes
Eu vi este quarto, eu andei neste chão
Eu vivia sozinho antes de te conhecer"

Nós somos algo nem que seja apenas para nós próprios. - Tiago Oliveira

Medo, o vergonhoso acto



Eu sentia-o suspirando.
Os sussuros por detrás das árvores.
Saudade e mágoa lá longe,
Lá longe,
Lá longe onde o medo nos atinge
Cravando o seu punhal de prata.
Cravado onde dói!

(Vergonhoso acto de desespero)

Eu sentia os seus passos.
As suas mãos sujas
Em volta do meu pescoço
Apertando, apertando, apertando...
O custo em respirar.
E depois?
O corpo caído no chão.

(vergonhoso acto de desespero)

Eu sentia-o a carregar a arma.
Dois homens sentados frente a frente
E uma bala para seis culatras.
Antes de premir o gatilho
Sorriem angustiados ouvindo o som do tambor.
Ouve-se o disparo,
Um cai morto, o outro sorri olhando o corpo.

(vergonho acto de desespero)

Agora já não sinto.
Os lugares foram trocados,
Há quem me chame morte
E há quem me chame o fim.
O meu nome, não o sei!
Apenas fico a olhar.
Parado, enquanto os corpos morrem.

(vergonhoso acto de preguiça)

Tiago Oliveira   8/01/2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um poeta


Um poeta a escrever
Morre pelo menos cem vezes
Sem ele mesmo perceber
O poder das suas preces.

Morre por doer,
Morre por sentir,
Morre por vender
E morre por pedir.

Quem escreve um poema
Não canta uma canção.
Ele expressa-se por pena
Como quem fez uma oração.

Um poeta a escrever
Morre pelo menos cem vezes mil
Por ser podre,
Por ser puro,
Por ser cabrão,
Por ser gentil.

Morre por falar,
Morre por não saber,
Morre por se calar.
Ele morre porque quer.

Quem escreve um poema
Não sabe porque o escreve.
Sabe que o tem de fazer
Até quando tudo o impede.

Um poeta a escrever
Morre pelo menos mil vezes mil.
Ele senta-se, bebe o seu copo
Mas o que escreve é seu.
E é belo
E é vil.

Morre por se dar,
Morre sem compreender,
Morre por amar
E morre por esconder.

Para um poema nada existe
É tudo uma pura invenção.
Só nele tudo persiste
Para sempre...
Na solidão.

Tiago Oliveira   3/01/2012

sábado, 31 de dezembro de 2011

POR UM EFÉMERO SEGUNDO



I

   E ela voltou atrás. Os olhos tentando dizer o que a sua própria boca não conseguia exprimir. Atirando faíscas de incerteza, explosões de paixão emergindo em ódio, como se fossem envolvidas por uma espécie de placebo de que ninguém se apercebia. Nem eles próprios. As escadas, a iluminação daquelas pequenas ruelas que se desvendava com o anoitecer. Pequenos segundos de êxtase, de prazer, um prazer inexplicável carregado de sofrimento. Talvez superior a uma orgia sadomasoquista.
   Sentia-se perdido, ele, presente naquele espaço quase tirado dos loucos anos 60. Os cafés e as conversas. As pessoas e os seus guarda-chuvas. As janelas entreabertas e as portas, essas, quase sempre fechadas. Percebo agora que talvez o facto de as portas estarem fechadas o perturbava um pouco, ou pelo menos, perturbava-o mais do que se estivessem abertas. Abertas á sua entrada, á sua descoberta. Sentia-se perdido, ele, ouvindo o motor dos carros, os lamentos das pessoas, os instintos dos animais, a brisa do vento e o salpicar da chuva. Presente, ele, naquele espaço mas só em corpo. A sua alma tentava chegar mais longe, quebrando barreiras, tentando transpor os limites da sua raça. Esperando chegar até ao mais intimo pensamento de alguém que por ali passasse. Ou apenas esperando ouvir o pensamento dela.
   O segredo que ela guardava. O segredo que ele queria desvendar. Teria morrido ele e voltado a nascer só para que essa revelação se mostrasse ao mundo. Revelada pura e simples como um Cristo ressuscitado. Como um mártir cantando Aleluia enquanto se deixa morrer envolvido em chamas. Teria morrido ele. E morreria a rir, de olhos bem abertos observando a lua a apagar-se.

II

   Quebrando o pensamento. Neste momento ela pergunta-lhe.
   - Será que enquanto nos observamos neste momento, em silêncio os nossos fantasmas viajam num espaço paralelo de mãos dadas e a sorrir?
 Ele, esboçando uma expressão alegre meia forçada apenas lhe diz.
   - Que fantasmas? Toca-me!
   - Vês? Pareço-te obra da tua imaginação? – Prossegue ele meio indignado, mostrando não acreditar muito nessas tretas transcendentais.
   - Não é isso. Eu sei que és real!
   - Mas já pensaste que talvez só num espaço paralelo a este é que o nosso amor pode ser real? E é nesse espaço que vivem estes fantasmas de que te falo. Ou como lhes quiseres chamar.
   Entretanto o silêncio. Como é belo por vezes escutar o vazio, percorrê-lo e abraçá-lo.
   E no fim?
   Atacá-lo! Torturá-lo! E GRITAR! Gritar de maneira a partir aquele cubo de titânio que nos reveste sem sequer darmos conta.
   E no fim?
   Voltar á realidade ou aquilo a que todos nós atribuímos esse significado. Aceitar o tempo, visualizar o espaço. Conformarmo-nos.
   Disse-lhe ele agressivamente naquele instante, como quem corta as cordas a uma marioneta.
    - Os fantasmas somos nós. E a realidade também!
    - Todo esse mundo que idealizas é apenas fruto da tua imaginação, um apêndice que está ligado ao homem desde sempre. É apenas um sonho! – Continua ele, como se as palavras surgissem de alguma forma divina.
   - ACORDA! VIVE! NEM QUE SEJA POR UM EFÉMERO SEGUNDO! – Gritou ele quase ficando sem voz.
   E tudo parou. Uma amnésia total. Aquele que falava efusivamente está agora estático. O tempo é apenas uma invenção reles do homem. Os pássaros cessaram o canto e os rios já nem se cansam em dirigir-se ao mar. O vento já nem para acessório serve e as gotas da chuva estão fixas no vácuo. A verdade deu lugar á mentira e a realidade tornou-se simplesmente um sonho…
   Tudo o que ele logicamente desprezava acabou por aprisioná-lo como na natureza faz a aranha á mosca. O seu cubo cada vez mais apertado começava agora a esmagá-lo, não deixando fuga possível.

III
 
   PHUM! PHUM! PHUM! E um relâmpago fazendo-se ouvir num estrondo apocalíptico devolve-os de novo às escadas, naquela rua iluminada onde já tinha anoitecido completamente e a lua brilhava como nunca se tinha visto. As conversas continuavam nas cadeiras dos cafés. As pessoas continuavam passando com os seus guarda-chuvas. As janelas começavam a fechar-se e as portas mantinham-se na mesma, talvez como uma forma de protecção do mundo exterior. O vento soprava ainda mais forte e a chuva continuava a cair.
   - Abraça-me! - Disse ela baixinho.
   - Não te compreendo de todo. – Respondeu-lhe ele começando a chorar. Falando como se estivesse a conter a sua raiva dentro dos seus ossos, da sua carne, da sua pele. Queria ser dono dele próprio. Talvez o tenha feito ou foi apenas consumido pela sua própria loucura, destruindo tudo o que de virtuoso o útero da sua mãe largou como se de um milagre se tratasse.
   E tudo continuou.

Tiago Oliveira    31/12/2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um enterro ao pôr-do-sol

E depois de sentir,
E a dor de deixar,
E os vermes consumindo,
Consumindo para lá das entranhas.

E os braços caidos,
E os joelhos quebrados,
E o coração pisado por um senhor,
Um senhor de grandes posses.

Um enterrado vivo ao pôr-do-sol.
E a viúva gritando de preto,
Sorrindo por dentro.
Forçando o caixão a descer.

A cegueira já não existe.
Á despedida, a alma cospe no corpo,
Cospe de nojo, de desespero.
A espera foi longa.

Haaa - e ele suspira suspenso.
O fio foi cortado de novo.
Haaa - suspira de novo.
Haaa, isto é a libertação.

Tiago Oliveira   19/12/2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

À espera do fim



"Vou dizendo sim á engrenagem
E ando muito deprimido"

Quem já nao sentiu a monotonia do dia a dia?

Toma esta flor

Toma esta flor, meu amor
Toma-a como se fosse tua
Com todo prazer e dor
Toma-a caida no meio da rua

Deixa-me conhecer-te
Passeando pelo horizonte
Deixa cair todos os floridos
Onde colheste aquela flor
Vinda do nada, pois nada sou
E aqui estou, para ti meu amor

Vem, senta-te a minha mesa
Despindo-te dos preconceitos
Aqui seremos nós, sem ética nem moral
Os corações já estão desfeitos
Porém, quem ama não quer mal

Deita-te em cima de todas as pautas
De todas as letras, músicas e obras de arte
Sê toda a minha cultura
Sê o meu livro sagrado que eu tento decifrar
Sê tudo aquilo que eu quero amar

Mostra-me tu, toda a verdade
Caíndo inerte na minha cama
Beija-me a alma e renasce com ela
Seremos de novo duas crianças
E abraçando a simplicidade
Nos amaremos de verdade

E nesse momento,
Toma de novo aquela flor
Aceita-a como se fosse tua
Só ela contêm o meu amor
Com o coraçao no meio da rua.

Tiago Oliveira 02/12/2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De Volta!!!

Pessoal, ausentei-me durante um largo periodo de tempo. Volto agora com mais força e empenho neste meu projecto, com um aspecto grafico diferente. Desde ja agradeço a quem me ouve (ou lê) e deixo aqui publicada uma musica de uma banda bastante interessante. Muitos a consideram a impulsionadora do movimento grunge.

MOTHER LOVE BONES com "Man Of Golden Words"



Tiago Oliveira 13/10/2011

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pássaro amarelo

A noite, a lua com a sua graça
E a estrada a percorrer...

E eu olho-te tão perto
Olho-te caído no chão
Por onde passam aqueles
Que te olham como eu,
Que me olham com desprezo.
E o pássaro amarelo...
E o medo nos teus ossos,
Treme... treme!
E a dor, e o perigo.
Lágrimas suadas de um rosto,
De um rosto enrugado, sujo...
Só!
O pássaro e eu!
Voando pela noite
Em torno das estrelas...
Voando no infinito!

Tiago Oliveira 27/10/2010