quarta-feira, 27 de março de 2013

Angústia


Ele é velho,
Ele senta-se e chora.
As mãos trémulas sobre a mesa
Procuram o lugar mais cómodo
Mas de novo voltam ao copo.
Bebe mais um gole.
Em seu redor tudo fede,
Não por acção humana,
Não por sua própria acção,
Apenas fede naturalmente
Assim como as suas recordações,
A sua cadeira,
A sua sabedoria,
O seu corpo e o seu rosto.
Somente isso o agrada.

Ele é velho, não de idade,
Ele sente-se velho
E continua sentado
Com o seu cú enterrado em coisa nenhuma.
Tudo lhe é tão vago como alheio.
As ruas, apenas ruas.
As pessoas, apenas pessoas.
Uma conversa, apenas uma conversa.
O resto, o que lhe é sabido
Tem tanto de si como de estranho.
Acende um cigarro,
Esconde-se por detrás daquele fumo,
O cheiro infesta todos os cantos daquela divisão.
Inala-o como se cheirasse a sexo.

Ele é velho, de angústias.
Tornaram-no velho a qualquer custo.
Chora como um bébé que se borrou todo,
Chora porque se vê como realmente é,
Chora porque se conhece
E não passa de um vazio.
Não passa de um velho,
Tão velho como a sua angústia.

Tiago Oliveira   23/03/2013