quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Distorção de uma Natureza


Vejo um campo de milho, imensamente grande, um exército grego. Suas folhas verdes afiadas como espadas de dois gumes utilizadas pelos militares, capazes de ferir como fere qualquer arma. O vento passando pelo interior de toda a plantação entoa gritos como aqueles que se ouvem em qualquer batalha, gritos de angústia, de dor e de saudade pelos que estão em casa á espera, não de um caixão, mas dos braços abertos do homem por quem eles há muito esperam e rezam a um dos quaisqueres deuses em que acreditam. Será a Hades a bela morte que eles rezam ou a Ares a doce guerra ou talvez Afrodite o sangrento amor. De que servem tantos Deuses quando no verdadeiro Deus está a verdadeira e completa força. Mas em breve aquele campo dará o seu fruto como o singelo terminar da guerra, que realmente não termina apenas descança durante o tempo que o Homem achar necessário. E como Alexandre o Grande, favorecendo a sorte o audaz, conquistou o seu império, o labrador levará a sua colheita como recompensa do seu esforçado trabalho.

Tiago Oliveira 30/09/2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Afinal...

O que sou “Eu”?
Será que sou “Eu”?
Ou será que sou um "Tu"?
Ou então um "Ele"?
Mas eu não quero ser um "Ele"!
E não quero ser um "Tu"!
Eu só quero ser "Eu"!
Mas porque é que não me deixam ser "Eu"?
Afinal porque é que não consigo ser "Eu"?
Será que não quero ser "Eu"?
Ahh! Já sei!
Eu quero ser um bocadinho de "Ti"!
E mais um bocadinho "Dele"!
E mais um bocadinho "Daqueles"!
Este sou "Eu"!
Mas mesmo assim
Metem-me nojo os que não querem ser "Eles"!
E os que não me deixam se "Eu"!

Fernando Santana

Conversas de Café


Sentir o simples gosto,
Conversas sem máscaras.

Disfrutando de toda a cultura,
De toda a importância.
Discussões acesas sem algum pudor
Que acabando somente te deixam a ânsia.

Ânsia de as voltar a ter
Aqui nada mais interessa,
Intensamente o ouvir, o falar, o gosto do saber
Oh saber! Oh doce saber!

Sabedoria honesta!
Um livro, um filme, um quadro, um poema.
sérias conversas loucas
Que tudo fazem valer a pena.

E saboreando o doce gosto do café,
Estar sentado aquela messa
E ali viver, sorrir, sofrer até,
Envolvidos no fumo que um cigarro deixou.

Tiago Oliveira 17/9/2009

sábado, 19 de setembro de 2009

O Camiño

Está quase!
É incrível este caminho. Simplesmente incompreensível para quem nunca o realizou. Incrível este encontro com nós mesmos, com o mais íntimo “eu” tão perdido nesta sociedade tão preocupada apenas com o que se vê, com o que se toca, com o que se possuí, este “eu” que já pensava não existir, este “eu” que encontrei manchado pela arrogância, pelo comodismo, pela luxúria, pela ganância… Este “eu” despreocupado com os outros, este “eu” que o caminho me mostrou.
É deitado nesta cama que tenho a consciência das gotas de suor que me correram pelo rosto sujo e cansado, do chão que calquei ao logo de cento e poucos quilómetros, dos peregrinos (que já deixam saudade), das guitarradas no pavilhão, das conversas cheias de pressa e euforia que anunciavam já a realização do caminho de novo! Mas ainda faltam 12km… Por mim já chegamos mas ainda há muita terra para calcar. Já me imagino na praça em frente aquela catedral que nos faz sentir tão pequenos. Já imagino o calor dos abraços dos meus companheiros. Imagino as lágrimas de alegria que curam qualquer dor. Imagino ouvir a palavra “parabéns” na voz rouca daquele que nos marca tanto e que nos faz pensar em ser Homens construtores de um mundo novo! Um mundo feito por mim, por ti, por cada um de nós que deve deixar uma pequena pedra em cada marco mesmo que ele mostre que faltam mais quilómetros do que aqueles que pensávamos. Mas a conclusão é a mesma: o importante não é chegar mas partir, partir na busca do desconhecido, na busca de ser um Homem que sente que vive que coloca mais uma pedra por mais pequena que seja na contrução do Mundo! Porque é possível!
Bon Camiño!

Fernando Santana

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Homem Sensato


Homem sensato,
Cobrindo-te a barba o rosto
Como te tapa o cobertor da liberdade
Escondes-te do outro
Buscando a simples verdade.

Dormindo na calçada,
Sentindo o frio no tutano dos teus ossos
Tornas-te frio de coração.
Teus olhos tristes
Jamais amarão.

Homem sensato,
Teus desgostos foram dores
Feridas que o tempo não cura
Tentas trata-las na solidão
Sozinho, tu e a fuga.

Já não sabes quem és
Perguntas, mas já não te respondem
Tuas respostas foram tantas
Que as mentiras já não escondem
A verdade que transportas.

Homem sensato,
Resta-te vagabundear
Faz o que fazes melhor
Todos os dias ansiando voar
Na imensidão da tua dor.

Tiago Oliveira 15/09/2009