sábado, 23 de maio de 2009

"Ama e faz o que quiseres!"


A minha razão de viver, não é tentar sobriver
É ter algo para lutar, algo a quem me dar
Mesmo não sendo dono de todo o saber
Tenho o mais simples e complexo dom, o de amar!

Amar é não ter medo, e querer o medo,
Amar é sorrir, e saber chorar com o outro,
Amar é lutar, mas nunca com armas,
Amar é dar um passo em frente, e não esperar que seja o outro a dá-lo,
Amar é um olhar, e um fechar de olhos para escutar,
Amar é um escutar, e um abrir de olhos para ver,
Amar é dar a vida, sem esperar que lhe seja reembolsada,
Amar é ter fé, mesmo que tu não acredites em ti,
Amar é uma mão que se estende, mesmo que o outro não a queira agarrar,
Amar é viver, ninguém vive sem amar,
Amar é recordar, e esquecer o que não importa,
Amar é um silêncio dentro de ti, e uma palavra para aquele que precisa,
Amar é saber dizer sim, e saber recusar (mas nunca o amor),
Amar é ser um marinheiro de aventuras, ou um pastor cheio de calma,
Amar é fazer o que tem de ser feito, e na hora em que tem de ser feito,
Amar é falar com o outro, não cries monólogos infinitos
Amar é abrir os braços aos outros, nunca cruzá-los
Amar é uma luta, a única que nunca podes perder
Amar é seres tu, e isso nunca o negues,
Amar não é ser sociedade, mas ser-se para a sociedae,
Amar sou eu e és tu, não se ama sozinho,
Amar é tudo o quiseres, só tens de amar,
Amar é amar!

Tiago Oliveira 23/5/2009

Perto do Céu


Meia noite fria e calma
A água bate na alma
Vinho do porto fervilha por dentro
Alucinação por um tempo

As guitarras afastam a solidão
E as conversas loucas fazem emoção
E a lua com o seu luar
Afasta a loucura, inicia a aventura pronto para sonhar

E nós aqui mais perto do céu
Mais perto de tudo, longe do mundo
E nós aqui sem truques na mão
Deitados no chão, fugindo da solidão

Silêncio, vozes a descansar
O mundo a girar por sonho imenso
E eu penso no que hei-de fazer
Talvez chorar ou talvez lembrar
Que o amor faz parte da vida
Por vezes perdido, um tanto esquecido

E nós aqui mais perto do céu
Mais perto de tudo, longe do mundo
E nós aqui sem truques na mão
Deitados no chão, fugindo da solidão

in NATUM DEI

Dedicado pelo Tiago e Fernando
Ao nosso "irmão mais velho" e grande AMIGO João Matos! YEAH!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Inutilidade de Guerras e Revoluções


"As guerras e as revoluções - há sempre uma ou outra em curso - chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar não horror mas tédio. Não é a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifício de todos os que morrem batendo-se, ou são mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: é a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inútil.
Todos os ideais e todas as ambições são um desvairo de comadres homens. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança. Não há ideal que mereça o sacrifício de um comboio de lata. Que império é útil ou que ideal profícuo?

Tudo é humanidade, e a humanidade é sempre a mesma - variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de mil xadrezes que é a vida em comum e luta, o tédio de contemplar sem utilidade o que se não realiza nunca - que pode fazer o sábio senão pedir o repouso, o não ter que pensar em viver, pois basta ter que viver, um pouco de lugar ao sol e ao ar e ao menos o sonho de que há paz do lado de lá dos montes."

Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Para dissecar...

Bob Dylan - Masters of War
(Cover by Pearl Jam)

Venham seus senhores da guerra
Vocês que constroem as grandes armas
Vocês que constroem os aviões da morte
Vocês que constroem todas as bombas
Vocês que se escondem atrás das paredes
Vocês que se escondem atrás das mesas
Eu só quero que vocês saibam
Que eu vejo através das suas mascaras

Vocês que nunca fizeram nada
A não ser criar para a destruição
Vocês brincam com meu mundo
Como se fosse o vosso pequeno brinquedo
Vocês colocam uma arma na minha mão
E escondem-se da minha vista
E viram-se e correm para longe
Quando as rajadas de balas voam

Como um Judas do passado
Vocês mentem e enganam
Uma guerra mundial pode ser vencida
Vocês querem que eu acredite
Mas eu vejo através dos vossos olhos
E eu vejo através da vossa mente
Como vejo através da água
Que escorre pelo meu ralo

Vocês aprontam os gatilhos
Para aos outros atirarem
Então vocês afastam-se e assistem
Enquanto a contagem dos mortos aumenta
Vocês escondem-se nas vossas mansões
Enquanto o sangue dos jovens
Escorre pelos seus corpos
E são enterrados na lama

Vocês lançaram o pior dos medos
Que pode ser lançado
Medo de trazer crianças
Para o mundo
Por ameaçarem o meu filho
Ainda por nascer e sem nome
Vocês não valem o sangue
Que corre pelas suas veias

O quanto que eu sei
Para falar fora de hora?
Vocês podem dizer que sou jovem
Vocês podem dizer que sou inculto
Mas há uma coisa que eu sei
Embora eu seja mais novo que vocês
Nem Jesus jamais poderia
Perdoar o que vocês fazem

Deixa-me fazer uma pergunta
Será que o vosso dinheiro é mesmo tão forte?
Poderia comprar o vosso perdão?
Você acredita que poderia?
Acho que irão descobrir
Quando a morte vos encontrar
Que todo o dinheiro do mundo
Não comprará de volta vossa alma.

E eu espero que vocês morram
E a vossa morte logo virá
Seguirei o vosso caixão
Na tarde pálida
E assistirei enquanto eles o baixam
Para o vosso leito de morte
E ficarei de pé sob o vosso túmulo
Até ter certeza que estão mortos


Fernando Santana

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Parado num banco de jardim...


paro num banco de jardim...
e penso!
Porque estou eu sentado?
Pertenço aqui?
Ou faço parte de um cenário pintado?
Será que existo?
Ou finjo existir?
...por ver outro passar
começo a sentir.
Se sinto estou a existir?
Ou será que continuo a fingir?
espera...
alguém me começa a falar.
Será que fala mesmo?
Ou estou a ouvir vozes?
Ou pior, estou a inventá-las?
Talvez para meu proveito
Para fingindo, inventar que aceito!
Aceitar acho que não! Eu não aceito isto!
e pensando continuo...
fingindo que existo!
Mas eu quero existir!
para isso preciso de agir, mas agir cansa...
e cansado já estou!
por isso continuo sentado,
no banco em que outrora, alguém mais se sentou!
Façam-me levantar!
Ou será que o consigo sozinho?
Não! Calem-se todos!
Deixem-me continuar fingindo!

Tiago Oliveira 6/5/2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

Cativar?


"Foi então que apareceu a raposa.
—Bom dia, disse a raposa.
— Bom dia, respondeu o principezinho com delicadeza (...). — Quem és tu? És bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Anda brincar comigo, propôs-lhe o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.-
(...)
-É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. - Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no Mundo. Serei única no Mundo para ti.
(...)
Mas a raposa voltou à mesma ideia:
- Levo uma vida monótona. Eu caço galinhas e os Homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os Homens são iguais. Por isso me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o Sol iluminasse a minha vida. Distinguirei de todos os passos, um novo ruído de passos. Os outros passos fazem-me esconder debaixo da terra. Os teus hão-de atrair-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Vês lá adiante os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E é triste. Mas os teus cabelos são cor de oiro. Por isso, quando me tiveres cativado, vai ser maravilhoso. Como o trigo é doirado, fará lembrar-me de ti. E hei-de amar o barulho do vento através do trigo...
A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.
- Cativa-me, por favor, disse ela.
- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer outras coisas.
- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. - Os Homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os Homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.
- Como é que hei-de fazer? disse o principezinho.
- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...Mas cada dia sentarás mais perto... E virás sempre na mesma hora. Se tu vens às 4, desde às 3 eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada:descobrirei o preço da felicidade. Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração, a vesti-lo,a pô-lo bonito... São precisos rituais.
(...)
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Agora vou chorar...
(...)
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
(...)
- Adeus - disse a raposa. - Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos. - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer."

Antoine De Saint-Exupery "O Principezinho"