sábado, 28 de janeiro de 2012

O Nó do Vazio


Os dias passam,
As horas passam,
Os segundos passam.
Eu passo com eles
No compasso do tempo,
Num compasso intemporal...

Oh! Minha cidade querida
Onde o rio corre
Em direção ao mar!
Pescador sou eu
E corro com ele.
Corro nela...
Entre vagas de pessoas,
Entre vagas do vazio.
O que pesco? Não sei!
Apenas amar...

E o banco já velho
De madeira já gasta,
Triste, podre, só,
Como eu...
Que nele me sento.
De nada me vale
Se valor tem alguma coisa
E nada sustenta
Se nada se levanta.
Apenas odiar...

Por fim, aclamo à terra!
Aquilo de onde vim,
Areia,
Barro,
Exterquilínio...
Que te abras por baixo de mim
Que eu caia no declínio.

(no vazio de mim próprio)

Lá estarei só
Mas aí o saberei
Que outrora fiz o nó
E no infinito...
O desatei.

Tiago Oliveira  28/01/2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Balada Desconcertante


Abraça-me no casamento
Que amanhã nos separamos!
Abraça-me no casamento
Desta balada desconcertante,
Desta balada flamejante.
O que hoje é,
Amanhã nao será importante.

(não sei que dizer mais)

Sou eu divorciado de mim,
Vive o outro no quarto ao lado.
Noutro pólo, parado!
Á espera do fim.

Tiago Oliveira   19/01/2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Proxeneta"



Chulo,
Proxeneta,
Cafetão!
Os meus prostitutos
Dão o cu por um tostão
Apenas putas,
Apenas putos
Mas o cu eles darão.

Os tempos não vão belos!
Nem pr'a mim,
Nem pr'a ti
Mas a isto te vais dar
Por ser esse o teu fim,
Por ser esse o fim de ti!
Por em ti nao acreditar.

Sim, aposta nisso.
Sim, é um bom futuro.
Sim, com esse "cuzinho"
Vais ser dono do Mundo!

(mal sabe o teu vizinho)

Como compraste aquele carro?
Tu nem tens trabalho!
-Pois não, dou o rabinho
E dói comó carvalho!

Prostituição de rua?
Prostituição de salão?
Prostituição tua!
Prostituição com razão!
Sim, eu invisto nisto
Ah! Sou um grande cabrão!

Venham, venham todos!
Venham todos ao meu rebanho!
Se tens cu!
Trabalho para ti, eu tenho!

E chamem-me!

Chulo,
Proxeneta,
Cafetão!
Pois...
Os meus prostitutos
Dão o cu por um tostão.
Apenas putas,
Apenas putos
Mas o cu eles darão.


Tiago Oliveira   18/01/2012

DEAD COMBO "Cuba 1970"


Lindo! Faça-se música!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Do Céu ao Lodo



Olhei-me ao espelho, acordei!
Lavei-me do que era meu,
Usei-me do que era teu.
Da terra me levantei,
Fiz-me erguer por entre o céu.

Disfarçado de ti mesmo
Tristemente a sorrir,
Sem de mim achar termo,
Sem de mim achar sentir.

Já nada eu era
Sendo nada o tudo.
Já tudo eu esquecera
Sendo eu o mundo!

Vi ruas desmascaradas
E vi pessoas escondidas,
Vi casas, sós, fechadas,
E vi almas perdidas.

Ah, mas não me via a mim!
E só me olhando em ti
Reconhecia o meu fim.

Para cada todo, há duas metades
Mas duas metades não são um todo.
Soltei-me então das grades
E do céu voltei ao lodo.

Tiago Oliveira   15/01/2012

sábado, 14 de janeiro de 2012

Radiohead - High & Dry



"Eu aposto que achas que isso é engenhoso, não achas rapaz?
Voando em sua moto,
Observando todo o chão abaixo de ti a desabar!"



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Lembro-me de cantar sem saber porquê



Lembro-me de cantar sem saber porquê
de sonhar, de sorrir inocentemente, quase feliz...
Lembro-me de ti como nesses momentos
em que olhava o horizonte, curioso.

Lembro-me de como olha a criança  as estrelas á noite
tentando dar-lhe nomes, tornando-as suas,
querendo voar para poder abraçá-las...
Lembro-me de correr, sentindo a brisa fresca
apenas porque naquele momento fazia sentido,
ali era quase feliz...
Lembro-me de ti como nesses momentos
e vou deambulando por entre fragmentos da memória,
quase feliz.

Lembro-me de cantar sem saber porquê,
somente cantava aquela musica...
Lembro-me de ti como nesses momentos
em que com os olhos tudo dizia, em silêncio.

Lembro-me como admirava aquele sentimento,
guardando-o como se guarda um tesouro,
protegendo-o quase como a um coração...
Lembro-me de quando o mundo parecia maior
e daquela força que me fazia avançar sem receios
fazendo dos sonhos apenas obstáculos.
Lembro-me de ti como nesses momentos
e sinto-te ao meu lado, sinto o teu abraço,
quase feliz.

E lembrando resta-me entao
pensar em ti quando nao te vejo
porque a quem gosta, só isso basta,
nesse momento em que sou quase feliz...
nesse momento em que sonho...

Tiago Oliveira    9/01/2012

domingo, 8 de janeiro de 2012

Jeff Buckley - Hallelujah


"Querida, eu já estive aqui antes
Eu vi este quarto, eu andei neste chão
Eu vivia sozinho antes de te conhecer"

Nós somos algo nem que seja apenas para nós próprios. - Tiago Oliveira

Medo, o vergonhoso acto



Eu sentia-o suspirando.
Os sussuros por detrás das árvores.
Saudade e mágoa lá longe,
Lá longe,
Lá longe onde o medo nos atinge
Cravando o seu punhal de prata.
Cravado onde dói!

(Vergonhoso acto de desespero)

Eu sentia os seus passos.
As suas mãos sujas
Em volta do meu pescoço
Apertando, apertando, apertando...
O custo em respirar.
E depois?
O corpo caído no chão.

(vergonhoso acto de desespero)

Eu sentia-o a carregar a arma.
Dois homens sentados frente a frente
E uma bala para seis culatras.
Antes de premir o gatilho
Sorriem angustiados ouvindo o som do tambor.
Ouve-se o disparo,
Um cai morto, o outro sorri olhando o corpo.

(vergonho acto de desespero)

Agora já não sinto.
Os lugares foram trocados,
Há quem me chame morte
E há quem me chame o fim.
O meu nome, não o sei!
Apenas fico a olhar.
Parado, enquanto os corpos morrem.

(vergonhoso acto de preguiça)

Tiago Oliveira   8/01/2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um poeta


Um poeta a escrever
Morre pelo menos cem vezes
Sem ele mesmo perceber
O poder das suas preces.

Morre por doer,
Morre por sentir,
Morre por vender
E morre por pedir.

Quem escreve um poema
Não canta uma canção.
Ele expressa-se por pena
Como quem fez uma oração.

Um poeta a escrever
Morre pelo menos cem vezes mil
Por ser podre,
Por ser puro,
Por ser cabrão,
Por ser gentil.

Morre por falar,
Morre por não saber,
Morre por se calar.
Ele morre porque quer.

Quem escreve um poema
Não sabe porque o escreve.
Sabe que o tem de fazer
Até quando tudo o impede.

Um poeta a escrever
Morre pelo menos mil vezes mil.
Ele senta-se, bebe o seu copo
Mas o que escreve é seu.
E é belo
E é vil.

Morre por se dar,
Morre sem compreender,
Morre por amar
E morre por esconder.

Para um poema nada existe
É tudo uma pura invenção.
Só nele tudo persiste
Para sempre...
Na solidão.

Tiago Oliveira   3/01/2012