quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Cela

Ouviam-se vozes de outrora vivos,
Eu estava morto e não ouvia.

A sala era fria e húmida
E o vento soprava,
Entrava...
Por entre as grades da janela
Querendo buscar o que restava de mim,
O que restava do meu corpo, corrijo,
Pois de mim já nada restava.

E eu escrevia o meu nome
Nas paredes, na porta, no chão,
No meu próprio corpo,
Escrevia, escrevia, escrevia...
Mas nunca o ouvira eu tão alto
Como o ouvi naquela noite,
Num grito intenso
Que me estilhaçava os ossos,
Que me desfiava a própria pele,
Não ali,
Mas num espaço transcendente
Em que não sentia dor,
Mas sofria numa angústia
Que me rebentaria a mente, talvez,
Se eu não tivesse tapado os ouvidos.

Conheci-me eu,
Tal como era,
E como era chamado.
Tudo se aqueceu, tudo se iluminou
E já não escrevia eu o meu nome
Deveras em lado algum.
Mas a sala era a mesma.

E o vento...
Tornava a soprar.

Tiago Oliveira 24/02/2010

1 comentário:

Anónimo disse...

Este poema está, como ja te disse, espectacular! A tua escrita está a melhorar, continua. Parabens pelo optimo trabalho neste poema e tambem no anterior.

Beijinhos*

B'